segunda-feira, 11 de maio de 2015

Em Goiás somos todos vira-latas.

Expressão criada pelo dramaturgo e escritor brasileiro Nelson Rodrigues, a expressão "complexo de vira-lata" é entendida como a inferioridade que o brasileiro se coloca voluntariamente em face do resto do mundo. Segundo Rodrigues, "o brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem". Sob essa perspectiva o goiano tem se colocado voluntariamente inferior ao resto do Brasil, assumindo seu complexo de vira-lata sem nenhuma vergonha ou pudor. Vítima de toda sorte de achincalhe de um governo que se mantém soberano há mais de 16 anos, amargando uma taxa de homicídios três vezes maior que Rio e São Paulo, na ordem de 45 mortes por cada grupo de 100 mil habitantes, pagando uma das maiores taxas de energia elétrica pelo pior serviço prestado em todo o país, o goiano é capaz de sentir orgulho do esculacho que sofre do poder público estadual. O goiano é capaz de bater no peito e regozijar-se quando ouve a mídia pelega estampar, em letras garrafais, o "projeto nacional" de Marconi Perillo. Os professores tiveram a titularidade surrupiada e a dignidade roubada no 3º mandato de Perillo, assim como os policiais civis, várias vezes enganados por promessas que não se concretizaram. Os prefeitos cooptados choram R$ 120 milhões em dívidas não pagas; os servidores públicos tiveram os salários parcelados sob o pretexto de queda na arrecadação, uma mentira que só nós, vira-latas, acreditamos piamente. A verdade está na cara, mas não se impõe, já disse Arnaldo Jabor. Não reagimos ao desmando de Perillo, porque somos apenas vira-latas e como bons vira-latas não temos razão para a auto-estima. Acreditamos, inclusive, que as OSs resolveram o problema da saúde pública estadual. Não há mais doentes nos corredores sobre macas, as emergências estão vazias. O nosso complexo de vira-latas nos impede de questionamentos simples: para onde foram os mais de 600 pacientes/dia que deixaram de ser atendidos no HUGO? Como vira-latas acreditamos que as OSs de Perillo curaram de fato as pessoas. E quando o Secretário de Segurança Pública vem à público dizer que a violência em Goiás é apenas uma sensação de insegurança, passivamente aceitamos essa "verdade", porque como vira-latas, não questionamos sequer a violência que nós mesmos sofremos. As obras prometidas em campanha, que ajudaram reeleger Marconi Perillo, estão todas paradas, outras nem saíram do papel. Mas ainda assim, como bons vira-latas, entendemos que isso é um problema nacional, coisa da Dilma e que Marconi é tão vítima quanto nós, vira-latas. Se Marconi perdoou R$ 1,2 bilhão de Friboi e hoje parcela salários, tira direitos e não paga data-base por falta de recursos, é perfeitamente compreensível, do ponto de vista de um vira-lata, que a arrecadação é a culpada. Se uma delegacia é fechada por falta de condições estruturais de funcionamento e R$ 600 milhões são gastos em publicidade, não há que se cobrar prioridade do Governo, porque a nós, vira-latas, é reservado apenas o direito de nos recolhermos a nossa insignificância.     

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